Como desenvolver um projecto de pesquisa em tempos de Covid?
A experiencia do ‘impacto do Covid 19 sobre os meios de subsistência das zonas ruais africanas’ (CwC)
Um grupo de pesquisadores das Universidades de Edinburgh (Escócia), Sheffield e Manchester (Reino Unido) e da Universidade Eduardo Mondlane (Moçambique) assim como a Fundação MICAIA colaborou num projecto bem sucedido, durante 3.5 meses com direito a financiamento para trabalhar sobre os ‘impactos do Covid-19 sobre os meios de subsistência nas zonas rurais de Africa’. O principal objectivo do projecto é de avaliar o impacto da pandemia do COVID-19 sobre os agregados familiares das zonas rurais e como as comunidades das zonas rurais africanas tem lidado com a pandemia em termos de meios de subsistência.
Contudo, como se pode garantir, nestes tempos de distanciamento, que a colaboração e interação com os participantes da pesquisa é eticamente e metodologicamente adequada? Aqui nos reflectirmos sobre alguns princípios importantes na construção do nosso projecto conjunto.
Construindo sobre parcerias duradouras
O financiamento do Fundo Global para os Desafios de Pesquisa (Global Challenges Research Fund) do Governo do Reino Unido foi designado pela Universidade de Edinburgh para ser usado em pesquisas relacionadas com o Covid no Hemisfério Sul até Julho de 2020. Os curtos prazos tanto para a submissão assim como para o financiamento necessitavam da construção de parcerias duradouras e áreas de estudo com as quais os pesquisadores já estão familiarizados.
Dr Casey Ryan (Universidade de Edinburgh), investigador principal do projecto, usou contactos antigos com a Universidade Eduardo Mondlane (Maputo, Moçambique) ligados a projectos de pesquisa sobre carvão vegetal (ACES, REFORMA) para convidar os especialistas Prof Luís Artur, Prof Natacha Ribeiro e o Eng Jone Fernando Jr (UEM).
Ele também coordenou com o Prof Dan Brockington (Universidade de Sheffield) assim como com o Dr Milagre Nuvunga e Andrew Kingman, responsáveis pela parceria Reino Unido e Moçambique denominada Fundação MICAIA, para que fizessem parte da rede de pesquisa.
Juntamente com a Pos-Dra Rose Pritchard, da Universidade de Manchester e a Dra Judith Krauss, da Universidade de Sheffield, que também já tem colaborado há muito tempo em diferentes partes da rede de pesquisa, foi feito um esforço conjunto com vista a criação coordenada das questões de pesquisa com este grupo de parceiros de pesquisa. Em tempos de Covid, um foco chave foi a priorização das vozes dos parceiros de pesquisa e a criação de benefícios de pesquisa para os seus participantes.
Trabalho colaborativo a distancia para coprodução e beneficiamento mútuo
De certo modo, Covid não mudou muito esta colaboração de pesquisa, no entanto mudou tudo.
Qualquer colaboração de pesquisa envolvendo colegas em uma multiplicidade de lugares dentro e entre países vai ter de depender das práticas de trabalho a distancia incluído encontros coordenados por meios de videoconferências e consultas interactivas por e-mail.
Nesse sentido, não há muita mudança para este projecto: a coordenação tem lugar, por exemplo, por meio de chamadas semanais, documentos interactivos incluído os primeiros passos metodológicos, questões de entrevistas e tabelas de amostragem são partilhadas com colegas por e-mail ou por meio de plataformas online. Até então tudo esta “normal”, apesar dos desafios da variação da conexão de Internet nos diferentes lugares.
Num outro sentido, Covid tem acentuado a necessidade de tornar a colaboração mais equitativa. Os colaboradores deste projecto têm-se esforçado para trabalhar de forma equitativa e com igualdade de parcerias de pesquisa que até rejeitam qualquer noção de ‘Direcção que é a contribuição do hemisfério Norte (Global Norte), dados providenciados pelo Hemisfério Sul (Global South) ‘. Este sentido é ainda mais importante quando se olha para as consequências da pandemia no terreno, que é sem precedentes na história recente.
Similarmente, visto que o projecto não envolve nenhuma viagem e nem reunião presencial dos colegas dos Hemisférios Norte e Sul, há uma maior necessidade de confiança entre as práticas de trabalho de cada um. O distanciamento físico, os desafios da logística relacionados com o Covid e as acrescidas responsabilidades de cuidados também necessitam que se seja mais sensível aos desafios e tarefas de cada um, que podem ser mais difíceis estimar mesmo que de forma remota. De realçar que as colaborações duradouras são a base para fazer este projecto funcionar.
Finalmente, há formas pelas quais o Covid mudou tudo.
Pesquisar como é que os mecanismos de fazer face ao Covid está a impactar sobre os meios de vida nas zonas rurais de Africa, é uma parte chave do foco deste projecto. As restrições de viagens, compras limitadas e restrições no movimento estão a afectar os meios de subsistência. Uma vez que as restrições relacionadas ao Covid-19 ainda podem ser reforçadas a medida que a doença se espalha, há uma necessidade de analisar como a doença e a resposta adoptada contra ela afetam e ainda vão afectar, os já precários meios de subsistência.
Em segundo lugar, o projecto de pesquisa foi desenhado para envolver o mínimo possível contacto interpessoal dado ao imperativo ético de não aumentar o risco de infecção ao desafiar as recomendações dos cuidados de saúde. Apesar de necessária, esta minimização do contacto interpessoal, levanta, em terceiro lugar, um conjunto de desafios éticos e metodológicos: que incluem a obtenção de consentimento informado dos membros do painel para entrevistas telefónicas contínuas, a distribuição de celulares, assim como o envolvimento efectivo de grupos vulneráveis que podem não estar familiarizados com o uso de celulares. Nós vamos repórter estes desafios, e como nós continuamente revisitamos a nossa organização actual a medida em que a situação vai mudando, a cada semana.
Desde as fases iniciais do estabelecimento do projecto, dois outros princípios tem sido chave:
Engajamento aberto, discussões frutuosas sobre logística, desafios éticos e metodológicos com contribuições de todos os envolvidos.
Tentar e aceitar erros especialmente num ambiente em movimento rápido como esta pandemia.
Em suma, se há algo que vale a pena sublinhar neste ponto inicial do projecto, é que contruir parcerias de longo termo e parcerias horizontais sempre trazem benefícios, especialmente em resposta a inesperados eventos numa diversidade de locais e engajando de actores múltiplos.
Nestes tempos difíceis, sentimos que tem sido, e será, um privilégio aprender um com o outro bem como a partir dos participantes da pesquisa durante a vigência do projecto.